Cuidados com o lar, crianças, idosos, pessoas com doenças; trabalho precarizado e mal remunerado: as mulheres estãos exaustas! E a culpa também é dos super ricos … que seguem ditando as regras do jogo e contribuindo menos do que deveriam com impostos.
Orçamento público para serviços de cuidados por meio de uma tributação justa para aliviar o cansaço das mulheres, ao mesmo tempo em que se garante o direito ao cuidado de todas as pessoas, é o tema do episódio #47 do É da sua conta.
No É da sua conta #47:
- Como as crises ambientais, econômicas, sanitárias e outras afetam proporcionalmente mais a vida das mulheres.
- A relação secular entre a riqueza de alguns bilionários – a maioria no norte global – com a pobreza de milhares de mulheres – a maioria no sul global.
- Nós mulheres estamos exaustas: ouvintes contam como lidam com as múltiplas jornadas e sugerem políticas públicas que aliviem essa sobrecarga.
- A tributação justa como solução: desigualdades de gênero na estrutura dos sistemas tributários devem ser corrigidas e deve-se investir em sistemas públicos de cuidados.
“Se traçarmos uma linha contínua, desde a colonização, a escravatura, vemos que são processos de extração de força de trabalho de populações periféricas, que estão na base da produção de riqueza para os grandes magnatas do capitalismo. As mulheres na África, América Latina e Caribe e Ásia continuam a ser exploradas através do trabalho produtivo e também reprodutivo.”
~ Âurea Mouzinho, Aliança Global para a Justiça Fiscal
“Na verdade, meu companheiro e filho contribuem com uma tarefa ou outra, um dia ou outro. É uma divisão desigual porque, no dia a dia, essa responsabilidade recai sobre mim.”
~ Teresinha Menezes, educadora social
“As noites são especialmente difíceis porque não temos cuidadora para um suporte prático nesse horário. Muito do meu trabalho é executado on line, às vezes no horário noturno. É comum que minha mãe não compreenda o que significa estar em chamada de vídeo e queira me interromper a todo custo. E isso com certeza gera algum grau de ansiedade a mais.”
~ Deborah Delage, consultora em amamentação
“Meu maior desafio é na hora de sair; pegar um transporte público com meu filho, uma criança de colo, pois as condições não são boas, está sempre cheio, às vezes não tem lugar para sentar. Vou levar o meu filho para a creche a pé e não tem como andar nas calçadas com o carrinho porque é esburacada, tem muitos desníveis.”
~ Michele Carvalho, artesã
“Os governos precisam reduzir a carga tributária injusta das mulheres e adotar uma tributação progressiva, redistributiva e igualitária de gênero. E isso inclui novas formas de tributação sobre o capital e a riqueza, bem como depender menos de impostos sobre o consumo também é importante.”
~ Roos Saalbrink, Action Aid
“É preciso gerar receitas e financiar uma transição para um sistema de cuidados público e formalizado. Os recursos para isso podem ser levantados a partir de políticas de justiça fiscal. A Tax Justice Network calcula que todos os anos se perdem quase meio trilhão de dólares para abusos fiscais causados por grandes multinacionais e de indivíduos muito ricos. Esses são recursos que poderiam ajudar a financiar essa transição.”
~ Florência Lorenzo, Tax Justice Network
“Um serviço público que eu pudesse contar seria o educativo, pra envolver toda a família nos cuidados, principalmente os homens, porque viemos de uma criação muito machista, muito preconceituosa. E a educação e os exemplos movem muito mais.”
~ Carla Avelina, administradora de empresas
“Reconhecer que a carga da mulher é maior é o primeiro passo para que a gente possa olhar e dizer que a gente pode dividir tarefas para que se reduza essa pressão sobre elas.”
~ Ivandro Claudino, analista de sistemas
Participantes:
Âurea Mouzinho, Aliança Global para a Justiça Fiscal
Carla Avelina, administradora de empresas
Deborah Delage, consultora em amamentação
Florencia Lorenzo, pesquisadora da Tax Justice Network
Ivandro Claudino, analista de sistemas
Michele Carvalho, artesã
Roos Saalbrink, Assessora política em justiça econômica e serviços públicos responsivos a gênero na ActionAid
Teresinha Menezes, educadora social
Saiba Mais:
A mulher malabarista: manutenção da vida e da economia do cuidado, cartilha do Instituto Equit.
Mulheres e Cuidado – Perspectivas sobre a organização social de um bem público essencial, Revista Tuba, publicada por Ondjango Feminista
The Care Contradiction – Action Aid e ISP, 2022.
Episódios relacionados:
Por que mulheres são mais tributadas que os homens? #23
É da sua conta é o podcast mensal em português da Tax Justice Network. Coordenação: Naomi Fowler. Produção e apresentação: Daniela Stefano e Grazielle David. Dublagem: Cecília Figueiredo. Download gratuito. Reprodução livre para rádios.